terça-feira, 18 de janeiro de 2022

 

                                  Orfeu e Eurídice

Orfeu e Eurídice às margens do Styx, de John Roddam Spencer Stanhope (1829-1908)

Orfeu era filho do deus de Apolo e da musa Calíope. Como prenda de Apolo, Orfeu recebeu uma lira e aprendeu a tocar com tanta dedicação e beleza, que, tocada pelas suas mãos, ela revelava um canto tão primoroso que nada nem ninguém conseguia ficar indiferente e imune ao encanto mágico da sua música. Até as feras mais selvagens adoçavam a sua agressividade diante das notas extraídas da lira, que praticamente as hipnotizava. Mesmo os arbustos cediam aos seus encantos.

Orfeu amava apaixonadamente a Ninfa Eurídice. No dia do seu casamento, esteve presente Himeneu para abençoar a união, mas o fumo da sua tocha fez lacrimejar os noivos, o que não trouxe augúrios favoráveis.
Pouco tempo depois, Eurídice passeava com as outras ninfas, quando foi surpreendida pelo pastor Aristeu, que, ao vê-la, se apaixonou por ela e tentou conquistá-la. Na sua fuga, Eurídice pisou uma cobra e morreu da mordedura que esta lhe fez no pé. 
Orfeu, inconsolável, tocou e cantou aos homens e aos deuses, mas nada conseguiu. Decidiu, então, descer ao reino dos mortos para conseguir recuperar Eurídice. Perante o trono de Hades e Perséfone, Orfeu cantou acompanhando o texto da música com os acordes da lira, ele cantou, "Oh divindades do submundo, para quem, todos nós que vivemos, teremos de nos submeter, ouve minhas palavras, pois que elas são sinceras. Não vim até aqui para espionar os segredos do Tartaro, nem medir minhas forças contra Cérbero, o cão de três cabeças, e cabelos enrolados, que protege a entrada deste lugar. Vim aqui para procurar a minha esposa, cujos anos juvenis foram reduzidos a um fim prematuro pelas presas de uma víbora venenosa. O amor me trouxe até este lugar, o Amor, deus todo poderoso que habita na terra conosco, e, se as velhas tradições são portadoras da verdade, não deixará de habitar também estas paragens. Eu vos imploro, por estas moradas cheias de terror, estes reinos do silêncio e das coisas que não foram criadas, para unir novamente os fios de vida da minha Eurídice. Nossos destinos convergem para vós e mais cedo ou mais tarde deveremos atravessar vossos domínios. Ela também, quando tiver cumprido todos os termos de sua vida, também vos pertencerá. Mas até la, concede-a a mim, vos imploro. Caso isso me seja negado, não poderei voltar sozinho e vós triunfareis com a morte de dois jovens."
Todos os fantasmas que o ouviam choravam e Hades e Perséfone ficaram tão comovidos que resolveram devolver-lhe Eurídice. Mas com uma condição: Orfeu poderia levar Eurídice, mas não poderia olhá-la antes de terem alcançado o mundo superior.
Caminhando na frente, Orfeu, que estava quase a chegar aos portões de Hades, com receio de ter sido enganado, virou-se para trás para confirmar se Eurídice o seguia. Esta, com os olhos cheios de lágrimas, foi levada para o mundo dos mortos, por uma força irreversível. Orfeu tentou alcançá-la, mas sem êxito.
Com uma tristeza profunda, Orfeu ficou deambulando durante dias sem comer nem beber. Muito deprimido, decidiu nunca mais amar nenhuma outra mulher. As ménades (bacantes) que tentavam conquistá-lo ficaram furiosas. 
Como Orfeu, não lhes dava resposta resolveram matá-lo. 
Com a morte ele  conseguiu encontrar finalmente  o seu grande amor.
Reza a lenda que depois de seu corpo ser atirado no rio Ebro, foi sepultado próximo do monte Olímpo. Ali, onde jaziam os seus restos mortais, os rouxinóis entoavam belas canções.
Por sua vez, as ménades, mulheres furiosas da Trácia, que decidiram matá-lo foram punidas pelos deuses, que as transformaram em carvalhos e rochas.

 


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